Dia 5 de Setembro O II Festival Internacional da Memória Sefardita agendado para 18 a 21 de Setembro em Belmonte, Guarda e Trancoso foi ontem, 5 de Setembro, apresentado oficialmente em Conferência de Imprensa realizada no Clube Trancosense, onde estiveram presentes os presidentes do Turismo Serra da Estrela , Jorge Patrão, da Comunidade Judaica de Belmonte, António Mendes e da Câmara Municipal de Trancoso, Júlio Sarmento e ainda a vereadora do Município da Guarda, Elsa Fernandes.
No encontro com os jornalistas foi realçado o alcance cultural e cientifico desta iniciativa conjunta onde a Memória Sefardita é objecto de estudo, designadamente de seus actores destacados ou personalidades que se evidenciaram na preservação, rememoração e estudo da presença judaica em Portugal e suas comunidades com particular destaque na região da Serra da Estrela mas também na defesa e salvamento de muitos judeus ameaçados pelas perseguições nazis.

Jorge Patrão sublinhou que na região da Serra da Estrela são já conhecidos mais de 500 cruciformes que testemunham a “cristianização” e presença de comunidades ou famílias hebraicas, que estão localizados e identificados, dos quais se destaca o caso da Judiaria de Trancoso que, a nível nacional, é a que possui maior número de inscrições.

Aliás, a este propósito, o Presidente do Município de Trancoso, Júlio Sarmento, disse aos jornalistas que o antigo Bairro Judeu de Trancoso tem sido cada vez mais procurado por turistas israelitas e outros judeus de outras nacionalidades, designadamente Estados Unidos, Espanha, França e Brasil.

O autarca considera ser este “ um património único e uma memória de um povo que constitui uma mais-valia para o também já de si rico património monumental trancosense, sua cultura, herança histórica e que em muito pode contribuir para o crescimento do Turismo”.

Júlio Sarmento referiu a importância que a construção, em curso, do Centro de Interpretação Judaica “Isaac Cardoso” vai desempenhar para o estudo, conhecimento e divulgação do património e da presença judaica em Trancoso mas também da região das Beiras, de Portugal e sobretudo na região transfronteiriça.

Trata-se de uma obra estimada em 1,2 milhões de euros comparticipada em 85 por cento por fundos comunitários.

“A valorização do legado histórico e do património, da memória, da cultura que construiu o passado e alicerça o futuro, constitui uma das prioridades do Município de Trancoso no processo de desenvolvimento harmonioso que deseja para o concelho. Temos esse património, respeitamos o legado histórico, cultural e social e queremos potenciá-lo ao serviço dos cidadãos”, afirmou.

O Presidente da Turismo Serra da Estrela, Jorge Patrão aludiu ao êxito alcançado no I Festival Internacional da  Memoria Sefardita realizado no ano passado onde foi evocada a obra e acção do Cônsul de Portugal em Bordéus, Aristides Sousa Mendes que salvou milhares de judeus durante as perseguições movidas por Hitler na II Guerra Mundial, desafiando ordens expressas do então Chefe do Governo e também  Ministro dos Negócios Estrangeiros, António de Oliveira Salazar, e que concedeu 30 mil vistos de entrada em Portugal a refugiados de todas as nacionalidades que desejavam fugir da França em 1940.

Foi também evocada Gracia Nasi ou Gracia Mendes, “A Senhora” empresária portuguesa, filantropa, protectora de outros portugueses de religião judaica que como ela, fugiram de Portugal no século XVI. Gracia salvou centenas de cristãos-novos da morte e das perseguições anti-semitas. Depois de deixar Lisboa viveu em Antuérpia, mas também , face a perseguições que lhe foram movidas, em Veneza, Ferrara e finalmente Constantinopla.

Ao referir-se ao programa do II Festival Internacional da Memória Sefardita, Jorge Patrão destacou a sessão de 19 de Setembro com a abordagem do tema “ Os Justos Portugueses da II Guerra Mundial – A Acção de Carlos Sampaio Garrido e Alberto Branquinho na Hungria” e a ante-estreia do filme “O Cônsul de Bordéus” de Francisco Manso (o mesmo realizador do filme “Assalto ao Santa Maria”) e, no dia 20 de Setembro, em Trancoso, a inauguração da Exposição do Espólio do Capitão Barros Basto (Convento dos Frades) e a sessão dedicada à “Obra do Resgate do Capitão Barros Basto” que desenvolveu a sua acção centrada no Porto mas extensiva ao “resgate” de judeus ou “marranos” em várias localidades do interior designadamente Bragança, Amarante, Pinhel, Fundão, Meda, Moncorvo, Covilhã, entre outras.

Barros Basto ficou conhecido como o “Apóstolo dos Marranos”, denominação que lhe foi dada pelo historiador Cecil Roth, e que descreveu o empenho com que se dedicou à sua “Obra do Resgate”.

Teve por divisa ““Adonai li ve lo irá” (Tenho Deus comigo, por isso não temerei”), fundou no Porto a comunidade israelita em 1923 e foi um dos impulsionadores da construção da Sinagoga do Porto, em 1938.

O capitão Artur Carlos de Barros Basto  nasceu em Amarante em 18 de Dezembro de 1887 e faleceu em 1961. Nunca foi reabilitado pelo Exército Português que o exonerou das suas funções de oficial, em 1943, por decisão do Ministro da Guerra por ser judeu e um activo defensor da tolerância religiosa, e dos Marranos em particular. A sua reabilitação, apesar de vários pedidos, continua por acontecer.

No final de década de 1988 foi organizado em Trancoso, por iniciativa da Associação de Amizade Portugal-Israel e Associação Rosh Pinah, então sedeadas na Guarda e Município de Trancoso, o Encontro Internacional para o Estudo da História das Beiras e dos Judeus Peninsulares que juntou alguns dos alunos da “Obra do Resgate” sobreviventes, onde se destacou Moisés Abrantes, do Fundão

São vários os oradores, entre investigadores, estudiosos, especialistas entre os quais o Bastonário da Ordem dos Advogados, António Marinho Pinto, Jorge Martins, Isabel Lopes, o rabino Elisha Salas (Shavei Israel), Miriam Assor, Elvira Meã,

É de salientar ainda a realização em Belmonte, em 18 de Setembro (15h00) do Mercado de Produtos Kasher e no Teatro Municipal da Guarda (21h00) o concerto de MOR KARBASI, artista israelita radicada em Londres, uma das mais insignes intérpretes de música Sefardita e em Ladino.