Dia 3 de Junho de 2012 (Mezuzah colocada na Sinagoga “Beit Mayim Hayim”)

Mais de 500 anos após o estabelecimento da Inquisição que destroçou a Comunidade Judaica de Trancoso e a sua Sinagoga, uma Mezuzah (caixa contendo um pergaminho com uma recitação bíblica) foi aposta no domingo, 3 de Junho, no umbral da Sinagoga Beit Mayim Hayim (Casa das Águas vivas) integrada no Centro de Interpretação Judaica “Isaac Cardoso” que acaba de ser edificado em Trancoso.

A Mezuzah constitui um dos símbolos de fé judaica de maior significado. É uma pequena caixa rectangular ou tubular feita de madeira, metal ou vidro, contento um pergaminho que em 22 linhas tem escrito a “Shemah Israel“ (“Ouve, oh Israel”), oração hebraica composta por versículos da Torah – (Deuteronómio 6:4-9 e 11:13-21).

A colocação da Mezuzah foi realizada em ambiente de festa no espaço da Sinagoga em que participaram cerca de seis dezenas e meia de jovens do KIVUNIM, colégio internacional sedeado em New York (Estados Unidos) dirigido por Peter Geffen que esteve presente e ainda pelo rabino norte América descendente de portugueses de Leiria, Dov Lerea, o rabino Elisha Salas, o construtor do cento judaico, David Saraiva e o encarregado Jorge Grilo, Sheliach Shavei Israel, José Levy Domingos e Luiza Metzker, da Comunidade Judaica, o presidente da Comunidade Judaica do Porto, Ferrão Filipe, magistrados de Israel, visitantes de Israel, Chile, Argentina, Gibraltar e Estados Unidos, os vereadores Amílcar Salvador e António Nascimento, do Município de Trancoso, e “Bnei Hanusim” de Lourosa de Besteiros, Pinhel e Vila Cova à Coelheira (Vila Nova de Paiva), entre outros.

Jorge Grilo, que dirigiu as obras de construção do Centro de Interpretação Judaica, foi o primeiro a colocar a Mezuzah, acto que foi partilhado depois por todos os presentes num ambiente de emoção.

“ Esta é uma homenagem aqueles que sofreram, foram perseguidos, torturados, mortos pela Inquisição, os de Trancoso, os de Portugal e de todo o mundo, uma demonstração de fé e de esperança e de que a memória da Comunidade Judaica de Trancoso, especificamente e dos judeus portugueses e da sua herança cultural, social e religiosa não pereceu apesar das perseguições e privações”, disse Peter Geffen, director e fundador do KIVUNIM.

O Rabino Dov Lerea, da Kivunim: New Directions procedeu na ocasião a uma “aula” de Torah (Lei Judaica) e falou do rabino Salomon Alami, escritor ético judeu português (sec XIV-XV) contemporâneo de Simon ben Zemah Duran  (רשב“ץ). Ele é conhecido pelo seu tratado de ética Iggeret Musar,  (Por que as catástrofes vêm), que ele dirigiu, na forma de uma carta, a um de seus discípulos, em 1415.

O rabino Dov Lerea proferiu uma comunicação sobre “ O Eggret HaMusar do rabino Salomon Alami de Portugal e os tumultos de 1391”.

Por seu turno, o Sheliach da Shavei Israel a Portugal, rabino Elisha Salas, realçou o significado que o Centro de Interpretação da Cultura Judaica e a Sinagoga têm para o conhecimento do passado da presença judaica em Trancoso mas também na região das Beiras e em Portugal, de forma geral, a importância social, económica, cultural e cientifica e sobretudo como local de referência para todos os “Bnei Hanussim” (descendentes de Cristãos-novos) que querem estudar, conhecer a Torah e a cultura judaica e também a sua fé.

Os jovens entoaram canções hebraicas, designadamente uma “medley de canções de alegria e re-dedicação “ interpretadas por Halel Moran/Kivunim 2011-2012, culminando com a oração de afixação da Mezuzah:”Barukh atah Adonai, Eloheinu, melekh há’olam / asher kidishanu b’mitz’voatav v’tzivanu lik’bo’a m’zuzah“ (bem-aventurado és tu, Senhor, nosso Deus, soberano do universo, que nos santificou com mandamentos divinos e nos ordenou afixar palavras da Torá sobre nossas portas).