

Escolher parar a Epidemia e respeitar as Mulheres
6 Março, 2020 - 8:00 - 17:00
O Partido Socialista americano cria o dia da Mulher a 20 de fevereiro de 1909. As mulheres há muito que efetuavam reivindicações, em vários países, lutando por direitos fundamentais. Outros países seguiram Nova Iorque, no mesmo dia ou em dias diferentes; até que em 1975, as Nações Unidas definem o dia 8 de março, como dia Internacional da Mulher.
A mulher na História da Humanidade foi nos primórdios tida como um ser humano inferior. A posição masculina era quem mandava, pelos que ditados populares infelizes como “em casa nem burra que faça him nem mulher que aprenda latim”; “a mula e a mulher com pau se quer” não são mais que estereótipos tristes que premiavam a violência na família.
Famílias felizes, tornam sociedades mais felizes. É preciso mais do que cuidar dos que consideramos nossos, é necessário sermos intolerantes perante a violência contra qualquer pessoa.
Sabemos que é difícil mudar mentalidades, mas é nas ações e na escrita que se reconhecem as pessoas; tal como há dias referiu o Presidente da República Marcelo Rebelo de Sousa. Reportamo-nos aqui apenas a países democráticos e em que os Direitos Humanos são fundamentais.
Devemos às mulheres de finais dos séculos XIX e início do XX, o arranque para a emancipação digna na sociedade. Vários países mudaram leis, direitos e deveres iguais aos dos homens. Portugal não ficou indiferente. Muitas foram aquelas que em manifestações, sacrificaram a própria vida, em Portugal por exemplo Maria Lamas ou Catarina Eufémia. Um exemplo de feminista beirã, que mereceu destaque nacional. E sem a determinação dela e das amigas, hoje a História das Mulheres em Portugal teria um fim menos glorioso.
Carolina Beatriz Ângelo em 1911 escreveu algo inédito: “As beiroas são criaturas inteligentes e com uma intuição instintiva da liberdade”. Natural da Guarda era admitida no liceu no dia 21 de abril de 1891. Não ficaria por aqui, acaba o curso de medicina com mérito em 1902. Foi a primeira mulher cirurgiã, no hospital de São José. A primeira eleitora a votar em Portugal, a 29 de maio de 1911. Reivindicou o direito ao voto para as mulheres, até às últimas instâncias.
Antonieta Garcia, igualmente beirã, para além de ter escrito distintos livros que destacam várias mulheres, na Beira, tal como delineou a vida de coragem de Carolina; recentemente foi mais longe e dedicou um livro “às Mulheres da Beira guardiãs da memória”.
No nosso país teve um impacto acrescido, também para a mulher, o 25 de abril de 1974, foi um ato efetuado com homens, em que as mulheres também já se tinham manifestado na rua contra o regime. As três Marias, respetivamente Maria Teresa Horta, Maria Velho da Costa e Maria Isabel Barreno, cuja escrita incomodava, não foram presas graças à revolução; e não podemos esquecer que foi uma mulher, Celeste Caeiro que iniciou a distribuição dos cravos, no dia da revolução mais carismática do mundo.
Recordemos e agradeçamos às nossas antecessoras que lutaram pelos direitos hoje instituídos.
Hoje o dia 8 de março surge como uma oportunidade para o Município assinalar a direção para a qual se espera que evoluam os padrões culturais e de consciência.
Foi aprovada recentemente uma Resolução de Conselho de Ministros (8 agosto 2019) sobre a implementação de medidas de prevenção e combate à violência contra as mulheres.
Os planos nacionais e os instrumentos de política pública cobrem várias áreas de intervenção sobre a problemática, o número de condenações por crimes de violência doméstica aumentou, a rede nacional de apoio às vítimas de violência doméstica e as medidas de prevenção amplificaram-se.
Contudo em 2017 ainda foram assassinadas 20 mulheres portuguesas pela sua condição de ser mulher! E em 2018 o número de femicídios cresceu para 28, mulheres assassinadas pelo simples facto de serem mulheres (relatório do Observatório de Mulheres Assassinadas).
Os dados relativos ao ano de 2019 evidenciam uma média de 5 mulheres por mês, em Portugal, vítimas de formas de violência extrema, sendo que destas, 3 são vítimas mortais.
A contagem do número de mortes com a infeção do Coronavirus também está em crescendo, e é considerada epidemia, epi (sobre) + demos (povo). Também a propagação de condutas violentas contra a mulher é sobre o povo e ultrapassa a incidência máxima esperada.
Precisamos de redobrar os cuidados para cessar a propagação de violência contra as mulheres, que também é epidémica, pois transmite-se por contágio dos modelos sociais às gerações seguintes.
Entre outros cuidados de proteção do coronavírus é recomendado usar máscaras adequadamente. As máscaras não podem evitar a propagação de pensamentos, palavras e atos contra as mulheres, mas a consciência e a responsabilização de cada um no respeito por TODOS é um poderoso antivírus.
As Conselheiras Municipais para a igualdade de género com a colaboração da Historiadora municipal