Entre a evocação e a TradiçãoCom a entrada em vigor do novo regulamento de organização e funcionamento de feiras de comércio a retalho no concelho de Trancoso, a Feira Anual de Santa Luzia passa a realizar-se no segundo fim-de-semana de Dezembro.
Assim, este ano a Feira de Santa Luzia realiza-se no dia 10 de Dezembro.

Trancoso agita-se de novo com em 10 de Dezembro com o movimento que lhe é peculiar na Feira Anual de Santa Luzia um dos maiores eventos sócio -económicos de Trancoso.

Chamam-lhe a Feira dos Capotes ou das Samarras. A Feira Anual de Santa Luzia é em Trancoso um certame marcante, de origens recuadas no tempo, mas que antevê um Inverno rigoroso onde as gentes procuram o necessário agasalho face ao frio intenso que se avizinha.

A feira é anual e as referências históricas não são abundantes mas que, embora sem elas, permanece a tradição de um mercado grande, associado ao culto da Santa Luzia cuja capela, de origem medieval, chegou a ser centro de outras e de várias localidades do concelho de Trancoso.

Era costume as pessoas deslocarem-se a esta feira para comprarem as roupas que usariam nas festas que se avizinham, mas também um tanto de alfaias agrícolas para a labuta da terra difícil beirã, entrecortada por penedias e vales, lameiros e hortas, soutos e olivais.  

A Feira de Santa Luzia foi sempre um evento económico com uma característica muito especial e diferente das outras feiras que se realizam em Trancoso, de grande impacto económico no concelho e região interior e do nordeste da Beira.

Isto porque “foi sempre considerada a feira dos capotes e das samarras porque esse saber tradicional que aponta Trancoso como uma terra muito fria, leva a que as pessoas procurassem vir e participar para comprarem agasalhos para o Inverno e como a Feira de Santa de Luzia, a 13 de Dezembro, vinha muita gente para se prevenir do frio”, afirmam os locais.

E, em jeito de tertúlia às Portas d’El Rey, acrescentam: “Eram os antigos capotes e roupa à base de algodão ou lã, mais indicados para agasalho para o Inverno e esta uma feira com uma característica muito própria, até pelo convívio das pessoas que enchem Trancoso, vindas de outras localidades, muitas vezes de regiões da Beiras mas também de Além Douro ou Trás -os – Montes”.

Reconhecem, contudo, que “ à medida que se avança no tempo, a Feira de Santa Luzia tem vindo a decrescer, fruto da crise em que o país se encontra e de que esta região sofre e é prejudicada pela situação económico-financeira que este pais vive”.

Estão, porém, esperançados em que a feira de Santa Luzia – em cuja igreja o pároco de Trancoso, Joaquim António, aproveita neste dia para fazer uma romagem à Santa – venha a ressurgir até porque “ as famílias trancosenses, cristãs, não deixam de ir ao templo medieval e fazer uma oração para que todos continuem a pugnar pela terra, pelos amigos, pela família e pela comunidade”.

Antigamente na feira vendia-se de tudo: agasalhos, tecidos, alfaias, sementes, quinquilharias, animais.

“É uma feira de negócio, de convivência, de participação, em que as pessoas convivem e, antigamente, era tradição os forasteiros trazerem o seu farnel e espalharem-se pelos largos e praças ou em torno da Capela de Santa Luzia para conviverem e comerem. Era uma festa “, dizem os trancosenses.

 Era, assim, “uma feira de trabalho, de sacrifício, em que as pessoas procuravam participar e conviver, numa altura em que as terras já estão semeadas e transformadas em semeadura, porque esta é uma altura de as pessoas colherem a azeitona, quando as couves já estão na terra. Vinha gente de longe, como ainda hoje, para fazerem uns o seu negócio e outros conviverem”.

Santa Lúcia de Siracusa, também conhecida por Santa Lúcia, foi uma jovem siciliana, venerada pelos católicos como virgem e mártir, que morreu por volta de 304 durante as perseguições de Diocleciano em Siracusa.

Na antiguidade cristã, juntamente com Santa Cecília, Santa Águeda e Santa Inês, a veneração à Santa Lúcia foi das mais populares e, como as primeiras, tinha ofício próprio. Chegou a ter 20 templos em Roma dedicados ao seu culto. Sua festa é celebrada em 13 Dezembro.