Emília Tracana pode bem ser considerada a “artista do amor”. Sim, porque é com amor, entrega e devoção que rebusca no passado histórico de heróis, na Natureza, nas lendas e gentes a inspiração para criar peças de inegável beleza e valor artístico que emolduram um qualquer espaço de festa, um lar, um recanto, um sentimento.
Professora da Escola Profissional de Trancoso (EPT), Maria Emília Tracana Alves é natural da freguesia de São Vicente, a que reclama para si o título de “a mais típica” na cidade da Guarda, onde nasceu a 06 de Outubro de 1948, filha de João Pereira Alves e de Maria Emília Tracana Alves.
O percurso de vida e o currículo são extensos, providos de um trabalho de luta e tenacidade correspondida na valorização pessoal que lhe granjeou prestígio e conhecimento nacional e no estrangeiro.
São qualidades que não arrecada só para si mas que comunica de forma denodada aos outros, sempre com um espírito de alegre criatividade e uma certa dose de querer ir mais além, para além do passado e do futuro.
Emília Tracana tem o Curso de Formação Feminina, concluiu o 12º ano na Guarda e aprovação no exame Ad-Hoc à Universidade de Coimbra (Faculdade de Letras) onde obteve a licenciatura em História (variante Arte) e, mais tarde obteve o curso de Formação Educacional /Psico-Pedagógicas. O percurso profissional preencheu-lhe 21 anos de trabalho na Segurança Social da Guarda.
Contudo, participou em vários cursos, seminários e acções de formação, nomeadamente no Seminário organizado pelo Centre International de Formations Europeenne Sur le Théme “la Communaute Europenne et L’Education” realizado em Esneux (Bélgica, Curso de Neoclassissismo e Romantismo Artístico em Portugal, Curso Monográfico no Museu Nacional Machado de Castro (Coimbra), Curso de História e Urbanismo promovido pelo Grupo de Arqueologia e Arte do Centro, IV Simpósio Luso – Espanhol de História de Arte e no 1º Encontro Alta Coimbra (Coimbra), 1º Encontro de Historia organizado pela Universidade Nova de Lisboa em colaboração coma Fundação Calouste Gulbenkian.
Ao longo da sua carreira foram muitas as participações em acções de carácter cultural promovidas pela Direcção Geral e Coordenação de Adultos em conjunto com o Município da Guarda e em exposições múltiplas cujos trabalhos contribuíram para a divulgação e conhecimento de aspectos Etnográficos e Artísticos da região.
São de salientar as intervenções “Questionar o Conceito de Património Cultural” no Encontro de História, Arte e Arqueologia de Trancoso, “Paleografia Diplomática – Técnicas de Investigação Arqueológicas” com vista à defesa do Património Cultural.
Tem vindo a desenvolver acções de carácter pedagógico ministrando conhecimentos de Pintura em Porcelana, Óleo e Vidro a jovens do 1º e 2º Ciclos, mas também a adultos. Assim, das mãos e da criatividade de Emília Tracana nascem peças de arte únicas, com um toque singular, que dão vida ao vidro, ao espelho, ao azulejo, à cerâmica.
É autora, no âmbito da História de Arte, de vários trabalhos entre os quais a “Breve Monografia da Cidade da Guarda”, “Estética da Arte Medieval”, “Retábulo Renascentista da Catedral da Guarda”, “Estética neoclássica à Estética Romântica”.
Na Imprensa, são vários os artigos publicados designadamente realçando-se “ O papel do Historiador como Dinamizador e Gestão dos Bens Culturais”, um trabalho sobre Defesa do património Cultural versando a preservação dos Centros Históricos e Correcta Gestão dos Bens Culturais nas Autarquias.
Como docente, exerceu funções de professora do 2º Ciclo Nocturno na área da Extensão Educativa tendo em vista a realização de trabalhos com os alunos de Investigação do património Cultural e revalorização do Artesanato Local, prestou serviço de docente no 2º Ciclo na Extensão Educativa leccionando as disciplinas de Português, O Homem e o Ambiente e Formação Complementar.
Mesmo assim, e sempre com o intuito de chegar mais além, Emília Tracana frequentou Curso de Informação à Informática da Direcção-Geral de Emprego e Formação da Administração Pública.
A concepção e feitura de trajes históricos, de época, designadamente alusivos à Idade Média nas suas diferentes classes – Clero, Nobreza e Povo – constitui um dos “baluartes” da obra da professora-artista, mas também investigadora e, mesmo que desapercebidamente, historiadora prática.
Mantos de reis e rainhas como é o caso de D. Dinis e D. Isabel de Aragão cujas Bodas Reais foram celebradas em Trancoso em 1282, de pajens, damas e cavaleiros, clérigos mercadores, mouros, judeus e artesãos, boémios e pedintes, de aldeões são minuciosamente confeccionados por Emília Tracana que recorda com saudade a companhia e ajuda da mãe, Maria Emília, na realização destas autênticas peças de arte, enfeitadas com rendas, bordados, pedras, ouro e prata sobre veludo, cetim…tecidos nobres ou também os simples trajes de gente do povo.
Emília Tracana tem pela Cultura uma perspectiva dinâmica, isto é, uma forma de animar as sociedades e comunidades, rebuscando na essência das suas tradições e memórias, vivências e história a temática que dá vida a evocações, festas, feiras, convívios, reconstituições históricas que impregna de autenticidade e vida que enche as ruas, largos, praças, palcos quantas vezes improvisados, envolvendo jovens e menos jovens.
Assim e sempre com sua presença e participação, alunos e professores da Escola Profissional de Trancoso (EPT), onde lecciona no âmbito do Curso Profissional de Animador Sociocultural, tem desenvolvido uma intervenção de animação que inclui músicos tradicionais de rua, mostra de trajes tradicionais, adereços e vestuários, jogos tradicionais, prosa e poesia, apresentação descritiva e temática de produtos e matérias de valor regionais (exemplo: a castanha), reconstituições históricas (exemplo: o desfile régio das Bodas Reais de D. Dinis e D. Isabel de Aragão em Trancoso).
Desta forma, passado e presente ganham actualidade independentemente do tempo e da época, com um espírito de entrega que Emília Tracana impregna naquilo faz e alastra aos que consigo colaboram ou seguem nesta tarefa de dar alegria ao tempo .
Isso está testemunhado na Festa da História de Trancoso, nas Feiras ou Festas Medievais de Castelo Mendo, Castelo de Vide, Sernancelhe, Penedono, Festa das Tradições da Rapa (Celorico da Beira) e de Pinhel, Encontros de Cultura de Pousade (Guarda), a Festa da Castanha de Trancoso, Jornadas Lúdico-Turísticas em Espaços Históricos em Almeida, Vila Nova de Foz Côa, animações em Manteigas e Sameiro, mas também em instituições como lares, apoios domiciliários. Mas também além fronteira, em San Felices de los Gallegos (Espanha) entre outras.
Teatro, música, gastronomia, etnografia, História, cultura e música popular, representações tradicionais, desfiles de moda, de fantasias lúdicas para crianças e adultos, entretenimento, figurinismo, enfim, uma panóplia de actividades têm registado a sua presença e um tanto da sua inspiração, quantas vezes crítica mas sempre construtiva.
Amante da Natureza, não esconde um certo gosto por tudo o que dela emana e o povo tem cultivado ao longo dos séculos. Daí a sua preocupação em preservar antigas receitas tradicionais mas também os produtos da terra e seus frutos.
Por isso se empenhou na criação da Confraria das Sardinhas Doces de Trancoso, um doce conventual inventado no extinto Convento de Freiras franciscanas nesta antiga vila medieval, que hoje constitui um dos seus “ ex-libris”.
O Curso Profissional de Animador Sociocultural da Escola Profissional de Trancoso (EPT) constitui para si uma área a que há mais de duas décadas se dedica com entusiasmo e alguma ambição que tem formado jovens que, afirma, “ aprendem a ser animadores e os transforma em agentes sociais que promovem o desenvolvimento pessoaal e social, ajudando a construir projectos, descobrindo novos interesses, despoletando capacidades e potencialidades para o desenvolvimento de actividades de animação”.
“Animar é, na sua génese mais profunda, dar vida, dar ânimo, insuflar confiança, optimizando condições favoráveis para o desenvolvimento harmonioso de crianças, jovens, adultos e idosos. O Animador procura cultivar o exercício da tolerância e do respeito pela diversidade, trabalhando para o bem comum em prol da prática da cidadania e solidariedade, criando espaços de debate, reflexão e informação, numa interacção que valoriza os comportamentos assertivos, valores, direitos e deveres”, diz.
Emília Tracana é assim: autêntica, espontânea e humana!