TRANCOSO REVIVE NO DOMINGO, 4 DE ABRIL, NO LARGO DA FEIRA, A “QUEIMA DO JUDAS” TRADIÇÃO COM CARACTERÍSTICAS SATÂNICAS QUE PERDURA HÁ VÁRIOS SÉCULOS, MANTENDO VIVO O ESPÍRITO COM QUE FOI CRIADA.Personificado por um tosco boneco que é ciclicamente imolado num auto-de-fé popular, a insólita “queima do Judas” concretiza ainda uma inegável sátira à abstinência quaresmal que, na morte dos iscariotes, encontra a vingança há tanto tempo ansiada.
 No fundo, é um espectáculo, com matiz pirotécnica em que o boneco é julgado e enforcado, explodindo depois no Largo da Feira, onde é suspenso de uma árvore perante numero assistência que teima em manter esta tradição, de pendor judaico-cristão, retomando, desta forma, ritos ancestrais que têm a haver com o fim do ano velho e o início da Primavera.

 A queima do Judas incorpora a personalização das forças do mal e constitui vestígio de cultos ancestrais ligados à Agricultura. Alguns autores atribuem-no mesmo ao Celtas mas é repetido e com várias características próprias em muitas partes do mundo.

  A alegria e a festa no início e fim das colheitas são realizadas para obter melhores resultados nos trabalhos do campo.

  O manequim, aliás, o Judas, representa o deus da vegetação em que, por magia, o fogo significa o sol e o processo se destina a garantir às árvores e plantações o calor e a luz indispensáveis, submetendo a figura ao poder das chamas.

 O sacrifício do mau apóstolo é, então, uma convergência de tradições vivas no trabalho agrícola.

 O julgamento do Judas, sua condenação e execução é motivo de festejo da comunidade trancosense que vê nesta festa a expiação dos males, a esperança de boas e novas colheitas ou apenas… o cumprir de mais uma tradição que não quer deixar perder no esquecimento.